Stéphane Bancel, CEO da Moderna, está no centro de uma revolução na pesquisa do câncer, e ele acredita que a inteligência artificial (IA) é a chave para desbloquear tratamentos inovadores e curas para esta doença devastadora. Em uma entrevista exclusiva, Bancel revelou como a Moderna tem usado a IA para impulsionar suas descobertas e como essa tecnologia está mudando o cenário da indústria farmacêutica.
O papel da IA na descoberta de medicamentos
Em entrevista ao SEMAFOR, Bancel enfatizou que a Moderna tem uma longa história de utilização da IA muito antes da popularização do ChatGPT. Eles acreditam que a combinação do conhecimento biológico crescente com a IA é a abordagem certa para o desenvolvimento de novos medicamentos. A Moderna foi capaz de desenvolver sua vacina COVID-19 inteiramente através de modelagem computacional em um fim de semana, sem nunca ter contato físico com o vírus.
IA na produção de medicamentos
Um dos avanços mais notáveis foi o uso da IA para desenvolver novas enzimas usadas na fabricação de mRNA na fábrica da Moderna. Essas enzimas não foram concebidas por humanos, mas sim por algoritmos de aprendizado de máquina. A FDA reconheceu a eficácia dessas enzimas e autorizou a Moderna a implementar mudanças em seu processo de fabricação.
IA na interlocução com reguladores
A Moderna também está usando a IA para simplificar as interações com reguladores governamentais. Quando confrontados com uma enxurrada de perguntas dos reguladores sobre um novo medicamento, a empresa utiliza um modelo de linguagem avançado para preparar respostas. Isso acelera significativamente o processo de aprovação, uma vez que as respostas podem ser geradas com base em uma vasta base de dados existente.
Treinamento em IA para todos
Um dos maiores desafios que a Moderna enfrenta é capacitar seus funcionários para trabalhar com IA. Bancel explicou que a empresa lançou uma Academia de IA há dois anos, com o objetivo de treinar todos os funcionários, desde operadores de linha de frente até o CEO, nas complexidades da ciência de dados e dos algoritmos de IA. O treinamento incluiu não apenas conhecimento técnico, mas também habilidades práticas, como escrita de prompts.
IA personalizada
A empresa desenvolveu uma versão personalizada do ChatGPT chamada “M chat” para atender às suas necessidades específicas. Essa IA é usada para tarefas como redação de padrões e contratos, e é alimentada com dados sensíveis da empresa. Isso permitiu que os funcionários da Moderna economizassem tempo e aumentassem a eficiência em várias áreas.
Colaboração entre gerações
Bancel destacou a importância da colaboração entre gerações na empresa. Assim como ele orientou seu chefe sobre o uso da internet na era do dot-com, os funcionários mais experientes estão trabalhando em conjunto com os jovens talentos que estão familiarizados com a tecnologia da IA. Essa colaboração tem sido fundamental para o sucesso da Moderna.
O desafio da IA
Quando questionado sobre a adaptação dos reguladores à crescente presença da IA na pesquisa de medicamentos, Bancel enfatizou que isso já está acontecendo. Ele explicou como a IA está sendo usada na terapia com antígenos personalizados para o câncer, onde o algoritmo seleciona mutações de DNA específicas para codificação em mRNA. A regulamentação, nesse cenário, busca garantir que os resultados sejam consistentes e controlados para segurança e eficácia.
Câncer e o potencial de cura
Bancel também compartilhou detalhes fascinantes sobre a abordagem da Moderna para tratar o câncer. Ele explicou que o câncer é uma doença do DNA e que a chave para o tratamento eficaz é identificar as mutações específicas no DNA do paciente. A IA desempenha um papel crucial nesse processo, permitindo que a Moderna desenvolva vacinas personalizadas que direcionam as mutações de DNA do paciente, ativando o sistema imunológico para combater o câncer.
Desafios na proteção de patentes
Por fim, Bancel discutiu os desafios relacionados à proteção de patentes em um cenário em que a IA está gerando inovações. Ele esclareceu que, apesar dos avanços na IA, a prova de conceito física ainda é necessária para patentear uma molécula. Portanto, a IA não tornará as patentes irrelevantes, mas pode nivelar o campo de jogo entre pequenas empresas e gigantes farmacêuticos, tornando a pesquisa mais acessível.