A Apple Inc. decidiu abandonar um dos seus projetos mais ousados e caros: o desenvolvimento de um carro elétrico. A informação foi revelada inicialmente pela Bloomberg, e confirmada por executivos da empresa na última terça-feira (27/02).
Segundo as primeiras informações, a Apple estava trabalhando há cerca de dez anos no chamado Projeto Titan, que tinha como objetivo lançar um veículo elétrico totalmente autônomo, com um design sofisticado e recursos avançados de navegação por voz. No entanto, o projeto enfrentou vários obstáculos e mudanças de rumo ao longo dos anos, e nunca chegou a uma fase final de produção.
A mudança de estratégia da Apple
A decisão de cancelar o projeto foi comunicada pelo diretor de operações Jeff Williams e pelo vice-presidente Kevin Lynch, que eram os responsáveis pelo empreendimento, aos quase 2.000 funcionários envolvidos na produção. Eles informaram que o projeto será encerrado gradualmente e que muitos dos funcionários serão realocados para a divisão de inteligência artificial (IA) da empresa, liderada pelo executivo John Giannandrea.
A divisão de IA da Apple é responsável por projetos generativos de IA, que são aqueles que usam algoritmos para criar conteúdos originais, como textos, imagens, músicas e códigos. Esses projetos são considerados uma prioridade estratégica para a empresa, que busca se destacar em um mercado cada vez mais competitivo e inovador.
A equipe automotiva da Apple também contava com centenas de engenheiros de hardware e designers de automóveis, que poderão se candidatar a vagas em outras áreas da empresa. No entanto, algumas demissões serão inevitáveis, embora o número exato não tenha sido divulgado. A Apple, que tem sede em Cupertino, na Califórnia, não quis comentar oficialmente o assunto.
O impacto da decisão para a empresa e o mercado
O fim do Projeto Titan representa uma reviravolta surpreendente para a Apple, que investiu bilhões de dólares em um projeto que poderia levá-la a entrar em uma nova indústria. A gigante da tecnologia iniciou o trabalho no carro elétrico por volta de 2014, com a visão de criar um produto revolucionário, que combinasse a qualidade e o prestígio da marca Apple com a sustentabilidade e a autonomia dos veículos elétricos.
No entanto, o projeto enfrentou dificuldades desde o início, com a Apple tendo que lidar com questões técnicas, regulatórias, logísticas e financeiras. A empresa também teve que mudar a liderança e a estratégia da equipe várias vezes, tentando encontrar o melhor caminho para o projeto. Lynch e Williams assumiram o comando há alguns anos, depois da saída de Doug Field, que hoje é um executivo sênior da Ford Motor Co.
A decisão de encerrar o projeto foi tomada pelos executivos mais graduados da Apple nas últimas semanas. A decisão ocorre apenas um mês depois que a Bloomberg News noticiou que o projeto havia chegado a um ponto crítico. A reportagem dizia que a Apple estava considerando adiar o lançamento do carro para 2028 e reduzir o nível de autonomia do veículo de 4 para 2+, o que significaria que o carro ainda precisaria de um motorista humano para algumas situações.
Além disso, a Apple estimava que o carro custaria cerca de US$ 100 mil, o que poderia limitar o seu público-alvo e a sua rentabilidade. Os executivos da empresa estavam preocupados com a capacidade do veículo de gerar margens de lucro que a Apple costuma obter com os seus produtos. O conselho da empresa também estava receoso em continuar investindo centenas de milhões de dólares por ano em um projeto que talvez nunca se concretizasse.
A decisão da Apple de desistir do carro elétrico pode ter um impacto significativo no mercado automotivo, que vem passando por uma transformação nos últimos anos, com o surgimento de novos competidores e tecnologias. A Apple era vista como uma potencial rival das empresas tradicionais do setor, como a Tesla, a Volkswagen e a Toyota, bem como das empresas de tecnologia que também estão investindo em veículos elétricos e autônomos, como a Google, a Amazon e a Uber.
No entanto, a Apple não é a primeira empresa a abandonar um projeto de carro elétrico. Outras empresas, como a Dyson e a Huawei, também anunciaram o fim ou a suspensão de seus projetos nos últimos anos, mostrando as dificuldades e os riscos envolvidos nesse tipo de empreendimento.
A Apple, por sua vez, parece ter decidido focar nos seus pontos fortes, como os seus produtos de hardware, software e serviços, e na sua capacidade de inovar em áreas como a inteligência artificial, a realidade aumentada e a saúde. A empresa ainda pode explorar o mercado automotivo de outras formas, como oferecendo o seu sistema operacional CarPlay, que integra o iPhone com o painel do carro, ou desenvolvendo soluções de mobilidade urbana, como o Apple Maps e o Apple Pay.