A China acaba de dar um grande passo em sua trajetória rumo à autonomia tecnológica, com a introdução de novas diretrizes que preveem a eliminação gradual dos microprocessadores norte-americanos da Intel e AMD em computadores governamentais. Essa mudança faz parte de uma estratégia mais ampla de Pequim para substituir tecnologias estrangeiras por soluções nacionais, em um contexto de crescentes tensões comerciais e tecnológicas com os Estados Unidos.
As novas regras de aquisição, introduzidas com pouco alarde em 26 de dezembro, também visam substituir o sistema operacional Windows da Microsoft e outros softwares de banco de dados estrangeiros por alternativas domésticas. Esta medida está alinhada com esforços paralelos de localização em empresas estatais, significando um impulso significativo para a campanha de substituição de tecnologia estrangeira que vem sendo promovida pelo governo chinês.
O movimento de Pequim é visto como uma resposta direta às ações dos Estados Unidos, que incluíram sanções a empresas chinesas e legislação para encorajar a produção doméstica de tecnologia, além de restrições à exportação de chips avançados e ferramentas relacionadas para a China.
As diretrizes afetam diretamente as compras governamentais de PCs, laptops e servidores, exigindo o uso de processadores e sistemas operacionais considerados “seguros e confiáveis”. O Financial Times relata que de acordo com uma lista publicada pela agência estatal de testes, todos os processadores e sistemas operacionais aprovados são de empresas chinesas, incluindo chips da Huawei e do grupo estatal Phytium, ambos afetados pelas restrições de exportação dos EUA.
Este esforço de substituição não é apenas um movimento estratégico em resposta às tensões geopolíticas, mas também parte da iniciativa de “xinchhuang” ou inovação em aplicações de TI, que visa alcançar a autarquia tecnológica nos setores militar, governamental e estatal. As empresas estatais, sob orientação da Comissão de Supervisão e Administração de Ativos Estatais, foram instruídas a concluir a transição para fornecedores nacionais até 2027, o que inclui a apresentação de relatórios trimestrais sobre o progresso da renovação de seus sistemas de TI.
Esse movimento poderá ter impactos significativos nas empresas norte-americanas, especialmente para a Intel e a AMD, cujos mercados na China representaram uma parcela considerável de suas vendas globais em anos recentes. A exclusão dessas gigantes tecnológicas dos futuros processos de aquisição governamental na China não só afetará suas receitas, mas também redefinirá o cenário da tecnologia global, marcando um passo significativo na direção da independência tecnológica chinesa.
Embora ainda haja alguma margem de manobra para a compra de tecnologia estrangeira, como indicado por funcionários de compras em Shenzhen, a direção é clara: a China está acelerando o passo para se desvincular da dependência tecnológica estrangeira, favorecendo soluções locais que são consideradas mais seguras e alinhadas com os interesses nacionais.
A longo prazo, espera-se que essa transição não só fortaleça a indústria de tecnologia doméstica chinesa, mas também inspire outras nações a considerarem caminhos semelhantes em busca de autonomia e segurança tecnológica. Este desenvolvimento coloca em evidência a crescente bifurcação do ecossistema global de tecnologia, sinalizando uma era de competição e inovação intensificadas na arena internacional.