Em meio ao zumbido constante da tecnologia e inovação, uma prática permanece curiosamente inalterada: o ato de colocar nossos dispositivos móveis no modo avião ao embarcar num voo. Esta ação, tão automática quanto apertar o cinto de segurança, é cercada por um manto de mistério e desinformação. Afinal, o que sabemos sobre a real necessidade do modo avião? Este enigma tecnológico foi desvendado e entenda o por que, após quase duas décadas, essa prática pode ser mais um vestígio de preocupações antigas do que uma necessidade real.
Contrariando a crença popular, a ideia de que o sinal de um telefone celular pode interferir nos sistemas de navegação de um avião é mais mito do que realidade. Este conceito, que se originou nas primeiras décadas da telefonia móvel, persistiu apesar dos avanços significativos na tecnologia aeronáutica e de comunicação. Em 2022, um marco importante foi alcançado na Europa, com a decisão de permitir chamadas telefônicas e o uso de dados durante os voos. Esta mudança foi facilitada pela instalação de “picocélulas” a bordo, tecnologia que existe há mais de vinte anos e que atua como um controlador de tráfego de sinais, evitando qualquer interferência potencial com os sistemas de comunicação do avião.
A Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) também pesquisou esta questão. Em 2012, um estudo conduzido pela agência encontrou evidências mínimas de que os telefones celulares poderiam, de fato, interferir com os sistemas elétricos de uma aeronave. A maior parte das preocupações parece ser baseada em anedotas ou informações desatualizadas, deixando claro que o perigo percebido dos dispositivos móveis em voos é largamente infundado.
Além da tecnologia: a questão social
Então, por que a insistência no modo avião? A resposta pode surpreendê-lo. Mais do que uma questão de segurança, o pedido para que os passageiros desativem seus dispositivos é motivado por considerações sociais. O conceito de “raiva aérea“ – a irritação e o desconforto causados por passageiros falando ao celular durante o voo – é uma preocupação real para muitas companhias aéreas. Esse fenômeno tem sido um fator contribuinte para a manutenção de regulamentações que limitam o uso de telefones celulares em aviões, visando garantir uma viagem mais tranquila e agradável para todos a bordo.
A raiva aérea não é um problema pequeno. Nos Estados Unidos, a FAA relatou um aumento significativo em incidentes envolvendo passageiros indisciplinados, com mais de 10.000 casos registrados entre 2021 e 2023. Este aumento acentuado destaca a importância de manter um ambiente calmo e controlado durante os voos, uma meta que a proibição do uso de celulares busca alcançar.
A história por trás do mito
A proibição original do uso de telefones celulares em aviões foi estabelecida em 1991 pela Comissão Federal de Comunicações (FCC), com o objetivo de prevenir a interferência com redes terrestres. No entanto, com os avanços tecnológicos, essa preocupação se tornou obsoleta. Ainda assim, a regra persistiu, em parte devido às preocupações sobre a raiva aérea e o potencial de perturbação causado por chamadas telefônicas durante os voos.
A FCC chegou a considerar a remoção dessa proibição em 2013, sob a liderança de Tom Wheeler, que reconheceu que as preocupações tecnológicas originais não eram mais relevantes. Contudo, a proposta enfrentou forte oposição, não por questões tecnológicas, mas pela preocupação com o impacto social do uso irrestrito de telefones em aviões.
O futuro do modo avião
Hoje, com a disponibilidade de Wi-Fi em quase todos os voos, os passageiros podem se conectar à internet, realizar chamadas de voz e se entreter sem a necessidade do modo avião. Se a instalação de picocélulas se tornar mais generalizada, essa conectividade poderá ser oferecida gratuitamente, marcando talvez o fim definitivo da necessidade do modo avião como o conhecemos.
Apesar dos avanços tecnológicos, o medo coletivo de voar e o desejo de aderir às regras das companhias aéreas mantêm o mito do modo avião vivo. No entanto, é importante reconhecer que, na era moderna, a verdadeira razão para ativá-lo é menos sobre interferência técnica e mais sobre cortesia e conforto coletivos.