A startup Augmental está revolucionando a maneira como pessoas com paralisia interagem com computadores e outros dispositivos eletrônicos por meio de um touchpad inovador, o MouthPad. Este dispositivo permite aos usuários operar telefones, tablets e computadores usando gestos com a língua, a boca e a cabeça, oferecendo uma nova esperança para aqueles com mobilidade limitada.
Tomás Vega SM ’19, cofundador e CEO da Augmental, teve sua primeira experiência com adversidades relacionadas à deficiência aos cinco anos, quando começou a gaguejar. Esse desafio inicial o levou a perceber o poder da tecnologia como uma ferramenta de superação. “Um teclado e um mouse eram saídas”, relembra Vega. “Eles me permitiram ser fluente nas coisas que fiz. De certa forma, consegui transcender minhas limitações, então fiquei obcecado pelo aumento humano e pelo conceito de ciborgues. Também ganhei empatia. Acho que todos temos empatia, mas a aplicamos de acordo com as nossas próprias experiências.”
Desde então, Vega tem utilizado a tecnologia para melhorar as capacidades humanas. Começou a programar aos 12 anos e, durante o ensino médio, ajudou pessoas com diversas deficiências, incluindo problemas nas mãos e esclerose múltipla. Durante sua trajetória acadêmica na Universidade da Califórnia em Berkeley e no MIT, Vega desenvolveu tecnologias que permitiram que pessoas com deficiência vivessem de forma mais independente.
A Augmental nasceu do desejo de Vega de criar soluções tecnológicas acessíveis e eficientes para pessoas com deficiências motoras. O primeiro produto da startup, o MouthPad, é um touchpad sensível à pressão que fica no céu da boca. Utilizando sensores de movimento, o dispositivo traduz gestos da língua e da cabeça em comandos de cursor e cliques, funcionando em tempo real via Bluetooth.
“Temos uma grande parte do cérebro dedicada a controlar a posição da língua”, explica Vega. “A língua é composta por oito músculos, e a maioria das fibras musculares tem contração lenta, o que significa que não se cansam tão rapidamente. Então pensei: por que não aproveitamos tudo isso?”
Impacto na vida dos usuários
O MouthPad já está transformando a vida de pessoas com lesões na medula espinhal, permitindo que elas interajam com seus dispositivos de maneira independente. Um exemplo é uma estudante universitária com tetraplegia que, graças ao MouthPad, consegue escrever fórmulas matemáticas e estudar na biblioteca – atividades que outros dispositivos auxiliares baseados na fala não permitiam. “Ela agora pode fazer anotações nas aulas, jogar com os amigos, assistir filmes ou ler livros”, relata Vega. “Ela é mais independente. A mãe dela nos contou que conseguir o MouthPad foi o momento mais significativo desde a lesão.”
O objetivo da Augmental é claro: melhorar a acessibilidade às tecnologias essenciais na vida moderna. “Esperamos que uma pessoa com deficiência grave possa ser tão competente no uso de um telefone ou tablet quanto alguém no uso das mãos”, diz Vega.
Em 2012, como estudante do primeiro ano na UC Berkeley, Vega conheceu seu futuro cofundador da Augmental, Corten Singer. Determinado a ingressar no Media Lab do MIT, Vega alcançou seu objetivo em 2016, juntando-se ao grupo de pesquisa Fluid Interfaces, liderado pela professora Pattie Maes.
Durante seu tempo no Media Lab, Vega desenvolveu dispositivos vestíveis para melhorar o acesso à informação online, qualidade do sono e regulação emocional. Um estágio na Neuralink o fez reconsiderar as interfaces cérebro-máquina, levando-o a buscar soluções menos invasivas.
Em seu último semestre no MIT, Vega criou um protótipo do MouthPad, que descreve como “um pirulito com vários sensores” para testar a boca como meio de interação com o computador. O sucesso do protótipo levou à fundação da Augmental em 2019.
Cada MouthPad é personalizado usando um modelo 3D baseado em uma digitalização da boca do usuário. A contenção é impressa em 3D com materiais de qualidade odontológica e equipada com componentes eletrônicos. O dispositivo permite rolar a tela deslizando a língua e realizar cliques com gestos específicos. Para pessoas com menos controle da língua, outras opções de gestos são disponibilizadas, e o rastreamento da cabeça também pode ser usado.
Expansão da tecnologia
A Augmental está buscando a autorização da FDA para ampliar as funcionalidades do MouthPad, como controle de cadeiras de rodas e braços robóticos. A aprovação também permitirá reembolsos de seguros, tornando o dispositivo mais acessível.
Vega está entusiasmado com os avanços nos agentes de IA e no hardware, acreditando que a Augmental pode ser uma ferramenta valiosa para todos. “O que esperamos fornecer um dia é uma interface de inteligência sempre disponível, robusta e privada”, afirma Vega. “Achamos que este é o sistema operacional mais expressivo, fácil de usar e com viva-voz que os humanos já criaram.”