A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) recebeu uma patente na última terça-feira, dia 14, para uma nova tecnologia com forte potencial de aplicação na indústria automotiva. Esta novidade, intitulada “Filmes e Multicamadas Magnetostrictivos Depositados Sobre Substrato Flexível como Elementos Sensores para Dispositivos Touch Baseados no Efeito Magnetoimpedância”, visa facilitar a forma como sensores automobilísticos são desenvolvidos e utilizados.
A tecnologia patenteada pela UFRN é fruto do trabalho de uma equipe de pesquisadores do Grupo de Magnetismo da universidade, incluindo Carlos Chesman de Araújo Feitosa, Edimilson Felix da Silva, Rafael Domingues Della Pace, Felipe Bohn, Kennedy Leite Agra e Márcio Assolin Correa. A pesquisa se destaca por sua aplicação imediata em sensores touch e de vibração, com um foco especial no desenvolvimento de sensores para a indústria automotiva. Além disso, a inovação é notável por seu baixo consumo de energia, o que facilita a integração com sistemas sustentáveis de captação e armazenamento de energia elétrica.
Aplicações tecnológicas
A tecnologia desenvolvida pelo grupo da UFRN tem a capacidade de detectar pequenas vibrações, uma característica crucial para aplicações industriais em máquinas de alto custo. Devido ao tempo necessário para a concessão da patente, que foi solicitada em outubro de 2017, alguns avanços tecnológicos já foram realizados por outros grupos de pesquisa ao redor do mundo. No entanto, a concessão desta patente coloca a UFRN em uma posição de destaque no cenário da inovação tecnológica.
O processo de concessão de patentes no Brasil exige que o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) guarde o documento em sigilo por 18 meses após o depósito. Depois desse período, o estudo é publicado e fica aberto para contestações durante mais 18 meses. Passados esses três anos, o INPI inicia a análise detalhada, o que geralmente resulta em uma concessão de patente após cinco anos do depósito inicial.
Trâmite prioritário adotado pela UFRN
Para acelerar o processo de concessão, a UFRN adotou recentemente a modalidade de trâmite prioritário oferecida pelo INPI. Essa medida visa reduzir significativamente os prazos de concessão de patentes, reconhecendo a necessidade de agilidade em um mundo onde a inovação tecnológica avança rapidamente. “Esperamos diminuir esse tempo para menos de três anos,” afirma Jefferson Ferreira de Oliveira, diretor da Agência de Inovação (Agir/UFRN). “Essa medida está sendo adotada em reconhecimento à necessidade de, no mundo acelerado em que estamos, tentarmos também apressar os processos de proteção dos nossos ativos, impactando os processos de transferência de tecnologia, que é nosso objetivo maior.”
A Agir/UFRN desempenha um papel fundamental no suporte aos cientistas da universidade durante o processo de solicitação de patentes, auxiliando na redação dos documentos e na gestão de questões burocráticas, como o pagamento de taxas e a quitação de anuidades.
A concessão desta patente exemplifica a estreita relação entre pesquisa e patenteamento. “Se eu patenteio, é porque pesquiso,” destaca Márcio Correa, coordenador do Grupo de Nanoestruturas Magnéticas e Semicondutoras (GNMS) da UFRN. A invenção patenteada é resultado do trabalho de doutorado de Kennedy Leite Agra, então estudante do Programa de Pós-Graduação em Física (PPGF) da UFRN e atualmente professor na Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba.
Correa ressalta que as patentes provenientes das pesquisas do grupo são frequentemente fruto de teses e dissertações de estudantes, simbolizando o encerramento de ciclos de desenvolvimento científico. “Iniciamos nossas pesquisas com o intuito de realizar o desenvolvimento científico e a formação de recursos humanos em nível de graduação, mestrado e doutorado,” explica Correa. “Durante o processo de amadurecimento dos trabalhos científicos, buscamos entender como aquela pesquisa pode ser efetivamente aplicada e ajudar no cotidiano das pessoas.”
Exploração de propriedades magnetostrictivas
Especificamente, esta patente explorou as propriedades magnetostrictivas de algumas ligas ferromagnéticas, que têm a capacidade de deformar na presença de um campo magnético, para a produção de sensores sensíveis ao toque e à vibração. Os materiais utilizados permitiram variações abruptas da impedância elétrica com apenas poucos Pascais (unidade de pressão) aplicados, similar à pressão de um dedo em uma superfície.
“Esta não é a primeira e nem será a última patente proveniente de trabalhos de Mestrado e Doutorado dos nossos estudantes,” frisa Correa. “A busca por soluções simples ancoradas no desenvolvimento científico é uma inquietude que impulsiona as pesquisas no nosso grupo da UFRN.”
Após o depósito desta patente em 2017, outros estudantes do grupo continuaram a desenvolver suas teses com base em princípios científicos similares. Um exemplo é a pesquisa de Acácio de Oliveira Melo, agora professor no Estado do Rio Grande do Norte, que utilizou o princípio magnetostrictivo para explorar fenômenos relacionados à geração de energia limpa baseada na Spintrônica, resultando em publicações em renomadas revistas científicas internacionais.